quinta-feira, 28 de junho de 2012

26-06-2012 - Cingapura

E chegamos ao último dia na Ásia.

A despedida de Cingapura foi intensa, três agendas no mesmo dia. Começamos ela ie Singapore (International Enteprise), agência que, naquele esquema do arranjo institucional deles, cuida da abertura de mercados para empresas de Cingapura em mercados pelo mundo afora. Resumindo, das instituições que visitamos dentro do mesmo arranjo, a SPRING cuida de pequenos negócios, a EBD cuida de atrair empresas para dentro de Cingapura, e a ie cuida de levar empresas para fora de Cingapura. Lembram da história do foco? pois é...

Como de costume, tudo começa com o mito fundador da separação da Malásia, a pobreza extrema e a total ausência de recursos na época, e os resultados que eles conseguiram atingir. Eles são o país mais competitivo do mundo, o país onde é mais fácil se fazer negócios no mundo, o país de menor corrupção e maior transparência na Ásia e ainda, o pais que mais respeita propriedade intelectual no mundo. Realmente eles não brincam em serviço quando o tema é se diferenciar pela competitividade do país para negócios.

Conhecemos sobre a forma de investimento público x privado que conduz o crescimento de Cingapura. Eles possuem dois fundos soberanos para investimentos, sempre em parceria com empresas privadas e as empresas resultantes, ainda que com grande parte do capital público, são geridas de forma absolutamente privada. Isso se aplica inclusive a portos e aeroportos. E, falando em aeroporto, eles descrevem o deles como "um shopping onde também pousam aviões...".

Em relação aos vizinhos da região, eles se consideram um país muito bem posicionado do ponto de vista da atração de negócios e não vêm concorrentes. Entre outras coisas, pelo fato de ser mais fácil fazer negócios  no país, pela transparência e pela localização geográfica estratégica, o que favorece o seu porto, que por sinal, é o segundo maior do mundo em movimentação de contêineres e é 10 vezes maior do que o porto de Santos. Por aqui, quem visita o porto se percebe em um deserto. Não há um único estivador e toda a movimentação de contêineres é feita de forma centralizada e forma automatizada. Além disso, há mais de 10 anos implantaram um conceito, na época inexistente em outros portos, de "single window", onde qualquer contêiner era liberado em minutos a partir de um único local.

A instituição seguinte foi a ASME - Association of Small and Mdium Enterprises. Em linhas gerais, apesar de seu slogan ser "for entrepreneurs by entrepreneurs" a ASME é o braço da SPRING (que em grande parte financia suas operações), para trabalhar com micro empresas. Enquanto a SPRING se concentra em empresas competitivas, inovadoras e de potencial exportador, a ASME cuida dos micro empresários, da sua formação, da atração de talentos para essas micro empresas e da realização de prêmios, que são dados aos borbotões, pelo que percebemos, de certa forma até banalizando-os... Mais uma vez, lembram da história do foco? Pois é... escolhas! A SPRING quer ser (e é...) MUITO BOA no trato com pequenas e médias empresas. E não se trabalha com pequenas e médias empresas da mesma forma que com micro empresas. Portanto, nada de querer abraçar o mundo (o pessoal já dizia lá em Jacarezinho que quem muito abraça, pouco aperta... hehe). A SPRING cuida do que sabe fazer, e a ASME complementa fazendo o que não cabe dentro da SPRING por questões de escolha, estratégia e adequação.

Finalmente, fechamos o dia na National University of Singapore conhecendo seu programa de incubadoras e apoio a start-ups. De certa forma, começa a ficar repetitivo, porque, mais uma vez, a história se repete. Pesquisa de altíssimo nível SEMPRE conectada à indústria! Se o pesquisador quer recurso para pesquisar, ele tem acesso a recursos de várias formas. Mas com uma condição: explicar como ele imagina que o produto da sua pesquisa será comercializado. No que tange às incubadoras chama a atenção o fato de que as empresas que nascem ali já nascem globais. E isso é fruto de programas de intercâmbio que mandam os estudantes para ficarem de 6 meses a um ano nos EUA (Vale do Silício) ou em outras universidade ao redor do mundo não necessariamente apenas estudando disciplinas que poderiam estudar em casa, mas imersos em alguma empresa startup desses locais e sobre a mentoria de empreendedores experientes. Exemplos do que isso gera: visitamos uma empresa de 3 meninos que produzem software para interpretação semântica e cujo mercado principal são os Estados Unidos (dois dos meninos participaram do estágio no Sylicon Valey). Em outra empresa, encontramos uma estudante de Cingapura, uma sueca, um australiano e um finlandes. A cingapurenha (espero que assim se denominem os cidadãos de Cingapura...) fez o estágio na Suécia Chegou lá, num frio desumano e descobriu que seu hábito de viver colada ao iphone seria comprometido, porque não dava pra digitar de luva. Então, resolveu o problema: criou com os amigos uma luva com propriedades indutoras. Ela é uma luva de frio daquelas que os dedos ficam todos juntos (tipo luva de boxe), mas que num "passe de mágica", pode descobrir os dedos que estão cobertos por uma luva de material condutor, permitindo operar os iphones e ipads da vida sem nenhum transtorno. Mercado? Qualquer lugar que faça muito frio (como Suécia e Finlândia), o que seguramente não inclui Cingapura.

No mais, chegamos à reta final Temos Dubai amanhã e depois, back home. Impressões gerais sobre Cingapura:
  • Cingapura é uma cidade estado do tamanho aproximado de Campinas. 
  • Crescimento físico de Cingapura está no limite. Agora, só crescendo através de aterros. Nos últimos 10 anos, saíram de 650 km2 para 710 km2 dessa forma.
  • O combate à corrupção é coisa séria. Possuem uma agência anti-corrupção ligada diretamente ao Presidente. O Presidente, apesar de ser figura de pouco poder em relação ao primeiro ministro, por exemplo, tem poder para destituir qualquer pessoa (inclusive o próprio primeiro ministro) caso a agência anti-corrupção identifique irregularidades. Neste caso, após a prisão, o sujeito só consegue, no máximo, ser motorista de táxi em Cingapura (no Brasil, o sujeito vira senador, por exemplo..)
  • Primeiro impacto de Cingapura é impressionante. Mas a cidade é pequena e compacta, e em dois ou três dias tem-se a impressão de que já se viu tudo.
  • Cidade ocidentalizada. Bastante orientada a turismo
  •  Todo mundo fala inglês. Na escola, aprendem mais dois idiomas além do inglês (o da etnia da pessoa - Chines, malaio, etc - e um terceiro)
  • A liberdade econômica é extrema, mas a liberdade política é relativa. O governo é gerenciado como uma empresa, o primeiro ministro é carinhosamente chamado de CEO de Cingapura.  O partido da situação está no país desde que o país foi criado. Possuem todas as cadeiras do parlamento menos uma. Percebe-se que o partido se sustenta pelos bons resultados ao longo dos anos. Será mesmo que a alternância de poder é tão necessária assim em todas as situações???? pra refletir...
  •  O que eles conseguiram fazer em 40 anos é impressionante. País paupérrimo e sem recursos quando se separaram da Malásia com PIB per capita inferior a de vários países miseráveis e hoje tem uma das 5 maiores rendas per capita do mundo.
  • Tudo é focado a negócios. Eles possuem a consciência de que o seu diferencial competitivo no mundo é facilitar a realização de negócios. Se não ajuda, tira do caminho.
  • Ter um carro em Cingapura não é fácil. Não basta comprar o carro. Começa com o leilão da placa, que custa cerca de USD 75 mil. Número de carros é controlado pelo governo. A placa vale por 10 anos, depois tem que comprar outra. São 600.000 carros, e o tamanho da frota é controlado pelo governo.
  • Em contrapartida, o transporte público funciona MESMO.
  •  Taxa de natalidade é de 1.3, a segunda menor do mundo (só perde para o Japão)
  • Exemplo do conceito de eficiência deles: no aeroporto, na entrega das bagagens, a primeira mala tem que chegar na esteira em no máximo 12 minutos depois do pouso, e a última em até 25 minutos. Em Guarulhos, só pra liberar um finger (quando libera...) pro avião parar já demora mais que isso... hehehe... e que venha a Copa do Mundo!

terça-feira, 26 de junho de 2012

25/06/2012 - Cingapura

O penúltimo dia em Cingapura começou as 9h da manhã na SPRING Singapore - Standards, Productivity and Innovation for Growth. A SPRING é parte do sofisticado arranjo institucional de Cingapura para fomentar o desenvolvimento econômico e é a agência responsável por cuidar das pequenas e médias empresas.

Esta instituição se diferencia da maioria das instituições que conhecemos porque além do papel de ajudar no desenvolvimento das empresas do ponto de vista da gestão e programas de apoio, ela também é responsável por padrões e certificações das pequenas empresas (uma espécie de INMETRO), a fim de assegurar que as pequenas empresas sempre terão níveis de competitividade internacional, já que o grande foco de atuação aqui é o mercado externo, uma vez que internamente Cingapura tem um potencial de consumo muito pequeno como país, com população total inferior a seis milhões de habitantes.

A exemplo dos outros países visitados, as pequenas e médias empresas respondem por 99% dos negócios. Entretanto, aqui há uma grande diferença no que tange à sua participação na adição de valor à economia, onde o segmento responde por 51% de todo o valor adicionado. Ou seja, as MPEs á passaram há tempos da fase de subsistência e se encontram focadas na criação de valor elevado.

A tarde estivemos na EDB Singapore - Economic Development Board, cujo papel dentro do arranjo que mencionei, é atrair investimento e empresas do exterior para Cingapura. Aqui também, como em outros países visitados, as funções de cada agência são bem específicas. Por exemplo, amanhã vamos à co-irmã do EDB cujo objetivo é levar empresas de Cingapura para o mercado externo. Ou seja, cada macaco no seu galho, com uma coordenação central que funciona bem e que deixa bastante claras as atribuições de cada parte.

Em Cingapura, pelas instituições que conhecemos até aqui, está presente de forma bastante forte a ideia do "mito fundador". Ambas as instituições explicaram seus papéis a partir da história do desenvolvimento econômico de Cingapura desde sua independência em 1965. No caso da SPRING, sua evolucão foi:


  • 1967 - 1978 - foco em exportação
  • 1979 - 1985 - Reestruturação da indústria
  • 1986 - 1997 - Capacitação das empresas e diversificação econômica
  • 1998 até hoje - Transformação de Cingapura em uma economia do conhecimento
No caso da EDB, fica mais ou menos assim:

  • Anos 60 - desenvolvimento de economia intensiva em mão de obra
  • Anos 70 - intensiva em habilidades do trabalhador
  • Anos 80 - Intensiva em capital
  • Anos 90 - Intensiva em tecnologia e serviço
  • Anos 2000 - Intensiva em inovação e talento
Estas mudanças de foco em cada uma das agências estão sempre conectadas ao momento econômico e ao plano de desenvolvimento do país. Começando na década de 60, quando o desafio era gerar emprego para a população miserável (lembremos que na independência em 65, Cingapura era mais um país pobre com renda per capita baixa e sem alternativas ou recursos naturais...). A partir daí, os momentos econômicos foram se sucedendo até chegar aos dias de hoje, onde o foco das políticas é transformar o país em uma economia criativa e inovativa, com altíssimos níveis de produtividade (a fim de que não tenham que importar mais mão de obra do exterior, já que hoje tem menos de 3% de desemprego) e que sirva como pólo de atração de talentos e porta de entrada destes talentos e empresas para toda a Ásia. 

A filosofia de negócio deles é simples: pergunte para que serve. Se não serve pra nada, tire do caminho. Desta forma, eles mudaram mais de 1.100 regulamentos e normas em torno do ambiente de negócios nos últimos 10 anos para tornar mais simples fazer negócios. Visão é de ser o melhor lugar do mundo para fazer negócios (pelos rankings atuais, já o são), e eles não podem errar neste ponto, pois como na Coréia, não têm recursos naturais, não tem energia e não tem nem água potável em quantidade suficiente. Assim, tornar o país competitivo é uma questão de sobrevivência.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

24/06/2012 - Cingapura

Final de semana agitado... pero no mucho. Pessoal com sono atrasado, mas deu pra conciliar (muito) sono com um pouco de turismo.

Cingapura realmente impressiona. Embora contrastes existam (basta se embrenhar por ruelas alternativas fora das principais avenidas para perceber...), no geral, a cidade transpira prosperidade. Dona de uma beleza arquitetônica única, talvez só equiparada pelas referências que tenho a Sydney em grandeza, beleza e funcionalidade. Tudo parece funcionar em harmonia. Os grandes arranha céus do centro comercial e financeiro com a região do Boat Quay  (onde bares e restaurantes se sucedem na beira do rio) separando-a do rio propriamente dito. A Marina, onde concentram-se o hotel famoso que tem a piscina de borda infinita no topo (fotos a seguir), a maior roda gigante do mundo logo ao lado, o jardim botânico nas imediações e a região dos shoppings de grifes famosas na região da Orchard Street.

Além disso, uma ilha inteira dedicada ao Hedonismo chamada Sedona, com cassinos, hotéis de luxo e uma filial do parque temático da Universal Studios.

Agora acaba a moleza porque aqui já é segunda-feira e estamos saindo do hotel para ir à Embaixada Brasileira por aqui. Penúltima parada da missão começa agora.

A seguir, algumas fotos "atrasadas" ainda de Kuala Lumpur (Petronas Towers, museu do comércio e showcase de empresas exportadoras na MATRADE, além de algumas fotos adicionais da SMIDEX) e fotos do final de semana em Cingapura.

KUALA LUMPUR















CINGAPURA (templo indiano, templo budista onde está a relícia "dente do buda" e vistas da cidade)





















sábado, 23 de junho de 2012

23-06-2012 - Cingapura

E chegou o final de semana... Estávamos precisando. Atualizei os posts anteriores com algumas fotos que não haviam subido para o blog pela falta de tempo.

Cingapura é acima de toda e qualquer expectativa que pudéssemos ter. A cidade é um espetáculo. Linda. Iluminada. Toda a cidade possui rede elétrica subterrânea, as avenidas são largas, os prédios são novos e de inspirada arquitetura. O ponto alto da viagem!

Comentarei mais sobre a cidade nos próximos posts. Por hora, algumas fotos tiradas ontem a noite na região da maior roda gigante do mundo (tem um nome diferente, Singapore Flyers, mas no fundo, ainda uma roda gigante) e na região de Marina Bay Sands.









sexta-feira, 22 de junho de 2012

22/06/2012 - Avião da Malaysian Airlines - Algum lugar entre Kuala Lumpur e Cingapura


Último dia em Kuala Lumpur, deixamos o hotel bem cedo, já de malas prontas e check out feito para nossa manhã no evento de pequenas empresas, onde antes da abertura teríamos a reunião com a SME Corp, mais importante instituição do arranjo de apoio aos pequenos negócios na Malásia. A SME Corp possui uma grande20 milhões em negócios potenciais.

Como estou escrevendo este post no vôo entre Kuala Lumpur e Cingapura, ainda não fizemos nossa reunião de avaliação dos aprendizados do dia. Mas no trajeto até o aeroporto em KL (sim, já nos sentimos íntimos da cidade a ponto de tratar Kuala Lumpur da mesma forma que o fazem seus residentes, apenas como “KL”), já trocamos algumas impressões. Vendo o que eles fazem por aqui e o nível de efetividade que eles atingem (o orçamento da SME Corp é uma fração do orçamento do Sebrae, por exemplo), algumas coisas saltam aos olhos.

Possuímos, efetivamente, uma rede de suporte aos pequenos negócios de primeira linha. Nenhum país visitado possui algo com a abrangência e formato do Sebrae no Brasil; 

Nossos produtos não são ruins. Pelo contrário, eles são muito bons. Entretanto, temos a mania de reinventar a roda a todo momento. Alguns dos instrumentos que eles utilizam com grande efetividade usam a mesma base de produtos que utilizávamos no Brasil há mais de 20 anos. Mas a obsessão por grandes números e a tendência a achar que tudo está obsoleto e que temos que “fazer algo novo”, nos parece que por vezes tira a efetividade e dispersa os esforços. Assim, trocamos efetividade (do ponto de vista do resultado concreto, não apenas quantitativo, e considerando como princípio básico a elevação do nível de competitividade das empresas atendidas e, por conseqüência, do País), consistência e “compromisso” com o resultado, por ações que atendem vários milhares de empresas de forma mais superficial e pela busca constante por novos produtos e soluções que tornam difícil estabelecer comparativos históricos e investir mais tempo e recurso na evolução das empresas que atendemos, uma vez que uma parte deste tempo e recursos são desviados para a atividade de criação de novos e novos e mais novos produtos. Em outras palavras, o sofisticado parece ser inimigo do simples e efetivo.







Kuala Lumpur - 21/06/2012


Mais uma vez, nossa programação na Malásia contou com o apoio da sorte (ou da conspiração do universo que normalmente acompanha as boas intenções). Por acaso, acabamos estando por aqui exatamente na mesma data de um grande evento que eles realizam envolvendo pequenas empresas. O evento é organizado pela SME Corp, com quem conversaremos amanhã. Mas hoje, fomos ao local do evento antes da sua abertura, que ocorreria as 10h da manhã, para uma reunião com membros da SMI Association of Malaysia (Small and Medium Industries – ou asssociação das pequenas indústrias da Malásia). A instituição oferece aos seus associados serviços de business matching e de facilitação de contatos comerciais, e o interesse maior das pessoas que nos atenderam (sete no total) era estabelecer processos de cooperação e identificar oportunidades de negócios efetivos entre empresas Malaias e Brasileiras. NA essência, estávamos com empresários muito focados em negócios, e a conversa girou em torno de eventuais oportunidades de parcerias entre empresas dos dois países.

Curiosamente, como coincidência pouca é bobagem, fomo abordados logo na chegada por um indiano, que é fundador Presidente da Small and Medium Business Development Chamber of India que percebeu que falávamos português e disse que estará levando uma missão da Índia em visita ao Brasil. Informamos que também teremos uma missão para a Índia em outubro, e ele prontamente se colocou inteiramente a disposição para ajudar em todos os aspectos necessários na montagem das agendas e realização dos contatos em todo o território Indiano, o que será de valor inestimável para a nossa missão que irá pra lá no segundo semestre.

Na sequencia, visitamos a Embaixada do Brasil em Kuala Lumpur, e vale dizer que todos os elogios que fiz anteriormente à Embaixada e ao senhor Embaixador do Brasil na Tailândia se aplicam à Embaixada aqui na Malásia e à sra. Embaixadora. Passamos longo tempo conversando com a Embaixadra Maria Auxiliadora Figueiredo, recém chegada ao seu posto vinda da África, e trocamos várias impressões sobre diferenças e similaridades entre a economia brasileira e malaia, além de conversar sobre possibilidades de cooperação. Evidenciamos que quem tem o papel de estabelecer cooperação formal no nosso caso é o SEBRAE Nacional, que tem expertise pessoal e estrutura funcionando com este propósito, o que não impediu de discutirmos várias idéias que poderão vir a dar frutos no futuro breve.

Da embaixada, seguimos para o MATRADE (Malaysia External Trade Development Corporation), outro exemplo fantástico de instuição de suporte aos pequenos negócios. Com um orçamento bastante modesto para os padrões brasileiros (APEX e outros), eles fazem ações bastante concretas (aqui é sempre assim.. FOCO, FOCO e MAIS FOCO!!!!!!, não dá tempo pra pensar em “o que fazer com o dinheiro”). Possuem instrumentos concretos de incentivo para pequenas empresas atingirem o mercado externo, inclusive, uma espécie de showroon permanente com 400 empresas pagando uma taxa de USD 400 por ano para expor seus produtos visando apresentá-los aos visitantes que todos os dias procuram o MATRADE atrás de produtos e serviços das empresas Malaias. Visitamos ainda o Museu do Comércio Exterior mantido por eles, que conta a evolução das práticas de comércio exterior do País.

O cansaço está acentuado, já que temos apenas mais um dia na Malásia, e muito ainda para ver. Mas estamos revigorados pela quantidade de aprendizado de valor que estamos absorvendo em tão pouco tempo.





Kuala Lumpur - 20/06/2012


Pois é já estamos no aeroporto aguardando o vôo para Cingapura e ainda não fizemos um único post sobre a Malásia. Portanto, vamos tratar de recuperar o tempo perdido.

Chegamos a Kuala Lumpur na noite do dia 19, já quase dia 20, no vôo da Malaysian Airlines vindo de Bangkok. Escrevo já de partida da Malásia, portanto, já posso tecer algumas conclusões que não poderia no primeiro dia: a Malásia nos impressionou desde o momento em que chegamos até agora, quando já estamos de saída. Me arrisco a afirmar que foi o ponto alto da viagem até aqui. Kuala Lumpur é uma cidade espetacular. Moderna, cosmopolita, viva, avenidas largas, belíssima arquitetura e, o mais importante, um povo tremendamente hospitaleiro que faz toda a questão de receber muitíssimo bem. Concluímos que ao contrário do que acreditávamos, valeria a pena ter ficado mais tempo aqui e menos em Bangkok.

Começamos a quarta-feira no SME Bank, banco Malaio de apoio aos pequenos negócios. Aliás, por aqui os bancos de desenvolvimento, como eles chama, são divididos por função (comércio, agricultura, pequenas empresas), de modo a terem foco preciso e evitarem sobreposição. Também vale mencionar que embora o banco tenha que dar resultado financeiro (leia-se lucro), esta não é a sua prioridade. O principal papel é ajudar a desenvolver a economia através do apoio a pequenas empresas. E, se uma empresa não paga seu empréstimo, a primeira preocupação do banco não é recuperar o recurso, mas sim, recuperar a empresa, apoiá-la, saber porque o financiamento não pode ser pago, para aí sim, pensar na questão financeira.

Como outras instituições por aqui, o crédito fornecido pelo banco também está sempre acoplado a consultoria e capacitação para a aplicação do recurso. Talvez isso ajude a explicar a taxa de insucesso das empresas atendidas pelo banco. Embora eles não tenham estatísticas precisas, o diretor com quem conversamos estima que apenas 10% das empresas atendidas pelo banco acabam morrendo no médio prazo. Eles usam a expressão  hand-holding . Em outras palavras, eles pegam as empresas pela mão para que caminhem juntos, e ASSUMEM RESPONSABILIDADE EFETIVA pelo sucesso da empresa.

No princípio de sua atividade (que data de 1974), o banco teve forte inclinação assistencialista. Seu papel predominante era apoiar pequenas empresas, independente do seu setor de atividade ou condição de competitividade. Com o passar do tempo, esse papel foi se transformando e agora está focado em, só pra variar, EMPRESAS COMPETITIVAS com potencial exportador.

Nos chamou a atenção  fato de que como na Coréia do Sul e na Tailândia, também aqui eles possuem um segmento de médias empresas, que não são mais micro e pequenas mas também ainda não são grandes, e portanto, continuam precisando de apoio.

O SME Bank também possui uma espécie de incubadora chamada Entrepreneur Premise Bank. Em resumo, o banco possui estrutura própria de condomínios para alojamento de pequenas empresas que podem ficar por ali entre 5 e 9 anos pagando um aluguel bastante favorável e aplicando o recurso fornecido pelo banco na forma de empréstimos. Ao se instalar ali, as empresas contam com assessoria permanente do banco. E o mais interessante, é que uma empresa é considerada graduada quando está pronta para ABRIR SEU CAPITAL. Também é interessante entender que essas incubadoras (que posseum espaço para mais de 400 empresas simultaneamente, em vários pontos espalhados pelo país) não tem conotação tecnológica, mas sim, foco em empresas potencialmente competitivas. Visitamos uma dessas instalações e conversamos com um empresário que compra kits de avião americanos e os monta na Malásia (aviões voltados ao lazer), e outra empresária que produz biscoitos e cookies. Percebemos que a realidade presente no ambiente de negócios é muito mais simples que no Brasil. Aliás, como nos outros países que visitamos, aqui também eles usam o ranking Doing Business como medida explícita da competitividade do país e estabelecem metas em torno disso. Outra aspecto relevante é que no ambiente deles, a competitividade não se mede pelo suposto nível de inovação decorrente de automação ou coisa do gênero. A empresa de biscoitos, por exemplo, é assustadoramente artesanal para os padrões convencionais. Por exemplo, o processo de embalagem dos cookies é feito manualmente, com pessoas dedicadas exclusivamente à tarefa de arrumr os cookies nas embalagens. Apesar disso, a empresária (que possui certificação Halal, necessária para vender alimentos para mercados muçulmanos), exporta SETENTA POR CENTO da sua produção para a China e já foi até vítima de pirataria por uma grande empresa do ramo por lá. A outra empresa, a de aviões, produz 3 aviões por ano, ao custo de USD 200.000 e os exporta TODOS para a Austrália.

A tarde, após a incursão ao SME Beank e uma das instalações da sua “incubadora”, seguimos para o MPC - Malaysia Productivity Center. Para traçar um paralelo familiar para a maioria, eles podem ser comparados à Fundação Nacional da Qualidade, no Brasil. Sua missão é impulsionar a competitividade das empresas Malaias através de melhoria de processos. Da mesma forma que o SME Bank, adotam o ranking Doing Business (que usamos de parâmetro para a construção das nossas missões) como balizador das suas atividades para melhorar de posição nos vários aspectos contemplados no ranking. O foco da instituição também evoluiu de forma significativa ao longo dos anos, acompanhando a necessidade do país em termos de alavancagem das suas empresas
  • Anos 60 – Treinamento em gestão e serviços de aconselhamento
  • Início dos anos 90– pesquisas e desenvolvimento de sistemas produtivos
  • 1995 – 2000 - Produtividade e aumento de eficiência
  • Início dos anos 2000 - Benchmark e melhores práticas
  • 2005-2010 – Competitividade e inovação
  • 2010-2015 – Alto impacto, produtividade e drivers de inovação

Enfim apesar do cansaço extremo (que se acentuará nos próximos dias, como comentarei nos próximos posts), temos a sensação de que as lições da Malásia serão riquíssimas. Se a Coréia do Sul está muito a nossa frente em termos de estratégias de desenvolvimento de pequenas empresas e a Taiândia está no extremo oposto, nos parece que a malásia está no meio de um processo evolutivo necessário rumo a saltos quânticos de competitividade, que tem muito a ver com aquilo que entendemos como necessário para nosso país