terça-feira, 31 de julho de 2012

Reflexões Finais - por RAINER JUNGES


Recentemente ouvi falar muito sobre o sudoeste asiático, grande desenvolvimento econômico, países de contraste socioeconômico, excelentes em processo, orientados ao mercado mundial, etc
Dos países visitados nesta missão: Coréia do Sul, Tailândia, Malásia, Cingapura e Emirados Árabes/Dubai, extremamente diferentes entre si em relação a cultura e crenças, porém relacionados pelo rápido crescimento econômico apresentado nos últimos anos.
Pude perceber diferenças e similaridades com o Brasil, porém gostaria de aqui esboçar alguns aprendizados ou reflexões decorrentes desta experiência:
Revolução não se faz sozinho – A cultura é dinâmica, como mecanismo adaptativo e cumulativo sofre mudanças, traços se perdem e outros se adicionam, em velocidades distintas nas diferentes sociedades, porém nos países que visitamos ficou explicito que as mudanças não foram feitas através de um grande líder ou uma grande instituição, existe um “sonho” coletivo. Em todas instituições que visitávamos, todas tinham o mesmo discurso, dividiam o mesmo “mito fundador” tinham seu papel no processo, porém todas compartilhavam o mesmo objetivo.
Isto, no meu entender, vai muito além de planejamento ou um “bom arranjo institucional”, no momento em que todos compartilham do mesmo sonho, a revolução pode estar em qualquer instancia ou qualquer organização e desde que o engajamento e desejo sejam legítimos o sonho pode, e se mostrou possível de ser alcançado.
Talvez o ponto crucial do processo, seja aderente a ideia apresentada por  James Collins e Jerry Porras no Livro “Feitas para durar” no qual discorrem que o crucial para o sucesso de empresas visionárias está em  “dar as ferramentas, não impor soluções” e que empresas visionárias tornaram-se líderes de mercado porque seus líderes preocupam-se com o futuro da empresa e a visão delas, não com eles mesmos.
A pobreza física é decorrente da pobreza mental” esta frase mostrou-se verdadeira nos países visitados. Na Coreia do sul no IFEZ não estão pensando em ser referencia na Coreia, pensam em ser um centro de referencia para o norte da Ásia, em Cingapura formam-se empreendedores para o mundo e não somente para o mercado local.
A cultura de excelência e empreendedorismo não é um privilégio de poucos centros, percebe-se presente em todos os níveis da sociedade, o espírito de grandeza é presente em todos os discursos. Em contraponto no nosso país pensamos em erguer barreiras e criar centros de excelência e fecharmos os olhos para o que ocorre ao nosso redor...Temos uma das melhores escolas do mundo porém a maior parte do ensino é de pais subdesenvolvido...Hospitais referencia à níveis mundiais porém a saúde pública padece,não sou contra centros de excelência, porém o que percebi nestes países é que só se muda uma realidade quando o acesso a serviços e padrões de excelência for do alcance de todos.
Zona de Conforto – Dubai não tem água, nem atualmente petróleo, e é literalmente uma cidade de tal grandeza que faz qualquer cidade brasileira parecer terceiro mundo... e está no meio do deserto, é difícil imaginar uma situação mais inóspita que esta...Cingapura não tem água, pouquíssimos recursos naturais e compartilha da mesma situação que Dubai...Coréia do sul que pela ausência total de recursos naturais concluiu que a única ação que os poderia retirar da extrema pobreza era importar matéria prima agregar valor e exportar, hoje um país menor que muitos estados brasileiros tem PIB superior ao nosso.
Atitude brilhantemente representada por Paulo Freire: ”A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, exige uma permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se libertam em comunhão."
Liberdade econômica – Todos os governos são pró-business e tem seu desempenho medido por indicadores de facilidade de negócios (doing business). As ações do governo são guiadas mais no intuito de remover empecilhos do que no sentido de querer guiar ou interferir no curso da econômica. Cingapura (que é o país numero um no ranking do doing business) a sociedade apresenta ao governo suas dificuldades sob o viés de que se o governo não pode sustentar uma lei ou regra que a retire... em efeitos práticos para que serve esta regra ou lei, se não há serventia então que a tire, se alguma determinada prática prejudica os negócios e não existe motivo que a sustente...então que seja removida.
Em nosso país a pratica se mostra contraria, criamos o controle do controle...órgãos fiscalizam processos e não resultados...e como resultante uma estrutura que se justifica pela burocracia por ela mesmo criada.
Investimento em Infraestrutura – As fotos falam por si....perder pra Bancoc foi frustrante. Nos países visitados predomina a consciência básica de qualquer negócio ...“to make money you have to spend money” num tradução literal “para fazer dinheiro é necessário investir” ...enquanto não sairmos do dilema do voo da galinha, com nossa visão de curto prazo vamos continuar pintando facha e remendando asfalto e chamando isto de investimento em infraestrutura...simplesmente ridículo.
Como lidamos com a corrupção – Em Cingapura existe uma única agencia que tem maior poder que o primeiro ministro, é a agencia anticorrupção. Um taxista nos relatou o caso de um político que fora flagrado envolvido em corrupção e este teve que deixar o país pois não havia mais possibilidade de convivência, todas as portas de todas as instituições, tanto privadas quanto publicas, se fecharam para ele. Grandes pensadores concluem que a única forma de ensinar ou liderar é pelo exemplo, o contraponto é que impunidade só reforça o comportamento.
Outro fato que me surpreendeu foi perceber que nossos produtos não são ruins ou desatualizados, por exemplo, na Malásia utilizam como ferramenta para medir competitividade das MPEs uma metodologia muito próxima da que já utilizávamos há muitos anos atrás que é o diagnostico de competitividade, que foi uma espécie de inspiração para o diagnóstico do varejo mais. Os instrumentos de capacitação e consultoria não são muito diferentes dos que utilizamos aqui, o que muda é a estratégia de aplicação, o foco, comprometimento com resultado e a constancia.

Certamente temos muito a aprender, porém volto desta missão com o sentimento de que é possível construir um país melhor.

Agradeço ao SEBRAE pela oportunidade e confiança, certamente me foi única sob diversos aspectos, desde o choque cultural até para reforçar o sentimento de que é possível ser melhor. Agradeço aos colegas de viagem Allan, Fabio, Heverson e Renata pelo companheirismo, amizade e compartilhamento de ideias.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Reflexões Finais - por FABIO ONO


Eu compartilho da opinião do escritor inglês Samuel Johnson:

“Viajar só tem vantagens: Se formos para países melhores, podemos aprender a melhorar o nosso. Se pararmos em países piores, podemos passar a apreciar o nosso.”

Antes de qualquer coisa, agradeço ao SEBRAE/PR pela oportunidade das aulas de desenvolvimento econômico “in-loco” que experimentei. Nas pouco mais de 3 semanas em que estivemos na Ásia tive a oportunidade de observar e discutir diversos aspectos do desenvolvimento de uma nação que não tive mesmo com os anos de estudo. Há nuanças culturais, sociais e políticas que interferem no desenvolvimento econômico e que somente poderia conhecer conversando com as pessoas que conversei, visitando as instituições e sentindo-se o clima do local.

Essa missão fortaleceu ainda minha convicção de que foco, planejamento e perseverança são cruciais para o sucesso. Eu aprendi que não há limites para o empreendedorismo e para a transformação de uma sociedade e de um país. E não preciso dar exemplos a partir das instituições de apoio as MPEs e ao empreendedorismo que visitamos e cujas reflexões estão muito bem relatadas nos posts desse blog. Na Coréia do Sul, conhecemos IFEZ (Incheon Free Economic Zone), uma imensa área próxima a Seoul que há 10 anos atrás era mar e que hoje abriga imensos arranha-céus e já atrai as melhores universidades do mundo e grandes multinacionais. Em Dubai, conheci uma cidade criada no meio do deserto em que as áreas verdes só existem graças a milhares de quilômetros em encanamentos de irrigação. Curiosamente, as visitas me fizeram lembrar de um filme que havia visto há muitos anos e que, refletindo melhor agora, possui uma forte mensagem sobre o comportamento empreendedor. No filme “Campo dos Sonhos” o personagem, interpretado pelo ator Kevin Costner, têm uma visão e constrói um campo de baseball no meio de uma plantação de milho no interior dos EUA, atraindo os melhores jogadores de todos os tempos. Nesse filme havia uma “voz” sempre lhe dizendo... “if you build it, they will come” (“se você construir, eles virão”). Penso que isso se aplica muito bem ao que descobrimos por meio dessa missão. É preciso antes de tudo ter uma visão, acreditar que é possível, planejar e executar. Se você criar as oportunidades e as condições para a atração de negócios, eles virão ou surgirão. 

Na década de 1950 a renda per capita da Coréia do Sul era de pouco mais de US$ 70 dólares (isso mesmo setenta dólares por ano); Dubai e Cingapura eram vilas de pescadores. As fotos neste blog falam por si mesmas sobre o grau de desenvolvimento que estes países lograram e que, comparados com o Brasil, têm uma situação muito mais adversa em termos de recursos naturais. Nesse sentido, pude recordar de uma idéia sobre desenvolvimento econômico debatida na academia, especialmente na década de 1990. A tese da “maldição dos recursos naturais” foi amparada em evidências empíricas de que países com uma abundância em recursos naturais (sobretudo petróleo) tenderiam a crescer de forma mais lenta que países com recursos mais escassos. Coréia e Cingapura suportam essa evidência, sendo absolutamente escassos em recursos naturais, desenvolvendo suas economias a partir de um modelo de crescimento baseado em exportações/comércio exterior.

Aliás, esse modelo de industrialização orientada para exportações, amplamente adotado pelos “tigres asiáticos”, ainda que em uma nova roupagem combinada com serviços e novas tecnologias, continua a mostrar-se bem sucedido para o desenvolvimento dos países (ainda que o foco hoje seja a inovação e conhecimento), mesmo após a crise monetária de 1997. Sei que é clichê, mas é impossível deixar de notar o quão global é o nível de competição ao qual as empresas estão submetidas! Na Malásia visitamos uma pequena empresa que produz biscoitos, exporta 70% da produção para China e recentemente descobriu que sua marca estava sendo “pirateada” por competidores chineses. Em Cingapura, visitamos uma startup em fase de pré-encubação formada por uma Cingaporeana, um Sueco, uma Norueguesa e uma sul-africana e que produz luvas para frio e que podem ser utilizadas em telas sensíveis ao toque de smartphones. Pois bem, essa firma já está viabilizando canais de distribuição nos principais países com invernos rigorosos do mundo. A internacionalização está no DNA dessas empresas!

Nesse sentido, possivelmente devido ao amplo mercado doméstico que temos no Brasil o mercado externo ainda está fora do radar da grande maioria das MPEs brasileiras. Mas se o Brasil almeja de fato ser um importante player no mercado mundial não podemos ignorar o papel que as micro, pequenas e médias empresas deveriam buscar. Temos vantagens comparativas na produção de commodities, isto é fato. Mas esse modelo se prova cada vez menos sustentável. A competição lá fora é feroz e os governos asiáticos têm políticas consistentes que procuram desenvolver o novo “hidden champion”, isto é a nova LG, Samsumg, Hyundai. As instituições de apoio que visitamos, de uma forma geral, procuram não “atender” uma pequena empresa, mas sim “desenvolvê-la” (juntamente com seus CEOs, líderes) para que possam crescer, criar empregos e exportar.

Outra conclusão que trago da viagem é que um Estado “pró-business”, isto é, voltado a melhorar sua posição no ranking “doing business” do Banco Mundial e assim aprimorar o ambiente de negócios, não é necessariamente um Estado liberal, ou seja, adeptos do laissez-faire. A história do governo da Coréia do Sul, Malásia, Cingapura e Dubai é de um Estado forte, atuante e diria intervencionista. É a historia do planejamento e execução da estratégia de desenvolvimento de um país. Provavelmente os asiáticos devem ter algo similar ao provérbio latino “res, non verba”, pois levam muito seriamente a execução dos planos e metas, ou seja, “ação e não palavras”.

Mas e ai? O que pode ser feito? O objetivo da missão é fazer um benchmarking com instituições internacionais acerca de políticas de apoio a inovação e empreendedorismo. Em um processo de benchmarking é preciso a todo momento comparar o Brasil e o SEBRAE com a instituição visitada, identificando as boas práticas e pensando em formas de adaptá-la à realidade local. Nenhum dos países se compara ao Brasil em termos de área de população. Certamente é muito mais complexo planejar um país com as dimensões continentais e tamanhas disparidades regionais que observamos no Brasil. Contudo podemos começar pelos municípios e pelo Paraná. Temos boas instituições no Estado do Paraná e os recursos não são necessariamente escassos. Porém, por não haver um claro plano de desenvolvimento do país e do Estado, os recursos não são empregados com a eficácia e efetividade que poderiam.

Nos países visitados, o arranjo institucional claro, com os papéis das instituições bem definidos, somados a um claro objetivo a ser alcançado resulta na eliminação de sobreposições e melhor aplicação de recursos. Tenho consciência das diferenças regionais no Brasil, mas podemos afirmar que de fato demos importantes passos nos últimos anos no que se refere à redução da pobreza e inclusão social. Está ai a “nova classe média”. Eu arrisco dizer que está na hora de dar um passo adiante, de rever as políticas assistencialistas, e planejar um Brasil “classe mundial”. Com o recente crescimento da renda e o surgimento de muitas oportunidades de negócios a política econômica deveria voltar-se à eliminação dos entraves aos negócios (complexidade tributária, infra-estrutura precária, etc.).

A despeito de todos os problemas o Brasil é um excelente país para se viver e mesmo para se fazer negócios. Imagina então o que poderia ser desse país se os entraves à competitividade fossem eliminados? Sou apaixonado pelo país e otimista de que podemos deixar à geração de meu filho um país melhor.

Agradeço aos colegas de viagem, Allan, Heverson, Renata e Rainer pela convivência e troca de idéias. A missão Ásia foi muito bem cumprida, mas a missão SEBRAE/PR 2022 está somente começando. Parabenizo o SEBRAE/PR, em especial ao Conselho Diretivo pela visão e ousadia. Estou certo de que em alguns anos, ao olhar para trás, terei orgulho de ter feito parte dessa equipe que fez a diferença no destino de muitos empreendedores do Paraná e quiçá do Brasil.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Reflexões Finais - por RENATA TODESCATO

Conhecer o sudeste asiático nunca fez parte dos meus planos. Sempre que planejei uma viagem (a lazer, principalmente), outros países ou regiões estiveram na minha lista de prioridades. Por ignorância, talvez, ou por pura falta de curiosidade sobre o outro lado do mundo. Independente dos motivos que não me fizeram aspirar tal destino, hoje posso dizer que estive profundamente equivocada. A experiência que vivi nesses 25 dias foi muito mais que conhecer o que países bem colocados no ranking Doing Business fazem para incentivar o empreendedorismo e apoio às pequenas empresas, foi conhecer pessoas e culturas que têm objetivos claros quando se fala em desenvolvimento. Desenvolvimento do seu país e mais, desenvolvimento do ser humano.

E fomos para o outro lado do mundo, literalmente. Começamos pela Coreia do Sul, por Seul, onde a diferença é de 12 horas à frente do Brasil. Assim, acordava com sono e ia dormir na hora do corpo acordar. Logo na chegada, tive uma boa percepção desde o aeroporto (digno de primeiro mundo) até o nosso guia Brian, que fala muito bem inglês e é super simpático (não sei por que eu achava que os coreanos eram fechados). A Coreia do Sul foi o país mais oriental que visitamos. As reuniões seguem padrões rígidos como o horário para começar e para terminar, quem deve falar, quem deve ouvir, qual o foco e ponto final. Dúvidas? Se passou do horário agendado, mandem por e-mail, por gentileza! Como eu trabalhei com japoneses durante cinco anos, não tive muita surpresa. No geral, foram muito amistosos, mas tive a percepção de que eles sabem o quanto estão à frente do Brasil e que, portanto, não haveria troca. Nós fomos lá para ouvir e eles estavam lá para fornecer. Não houve interesse em saber quem somos e/ou o que fazemos. Dá pra entendê-los!

Próxima parada: Tailândia, Bangkok. Esqueçam as fotos magníficas que sempre se vê desse país. A capital não tem nada daquilo. Cidade suja, trânsito caótico, carros cor de rosa (talvez não precisasse, mas queria mencionar, eles têm carros rosa-shocking, pink mesmo). Andar na rua dava medo, não senti segurança, mas como estava acompanhada do grupo, me arrisquei. Em oposição à Coreia, percebi que a Tailândia tem um grande interesse no Brasil, em conhecer nosso trabalho, em saber como podemos promover parcerias. As reuniões foram bem mais parecidas com as nossas. A apresentação é informal e fala-se de amenidades antes de ir ao ponto central. O clima é muito mais leve. Ainda comparando com a Coreia, a Tailândia está  alguns anos atrasada em relação ao seu desenvolvimento. Esse pode ser o motivo do interesse no Brasil e em formarmos parcerias. Com certeza, temos mais similaridades.

A Malásia foi a grande surpresa dessa viagem. Kuala Lumpur superou todas as expectativas ao ser uma cidade limpa, desenvolvida, com prédios novos, ruas largas (três pistas na maioria delas). Tinha a sensação de estar numa cidade dos EUA ou Alemanha. Eles querem ser país desenvolvido até 2020. Pode parecer um desafio ousado, mas depois de ver o plano estratégico desenhado, com foco e prioridades para cada entidade local, não tenho a menor dúvida que alcançarão seu objetivo. Os malaios são o povo mais “latino” que encontramos. Gostam de conversar, são informais, algumas reuniões até começaram com atraso, sempre tem um cafezinho no meio e são muito simpáticos. E “marqueteiros”. Não houve uma entidade que fizemos reunião na Malásia que não tentou nos vender a Malásia. Existe até um programa do governo chamado: Malaysia as a second home. Precisa dizer mais alguma coisa?

Singapura é surpreendente, mas é o que se espera mesmo! Cidade que é Estado e tem apenas 3 milhões de habitantes, onde tudo é controlado, até o números de veículos nas ruas. Sim, você primeiro precisa comprar um licença de placa (80 mil dólares) para poder importar um carro para a ilha. O presidente é denominado CEO e a cidade funciona como se fosse uma empresa, ou um big brother (como preferir, já que você está sendo monitorado). Uma ilha que não tem recursos naturais e chegou a ser dependente da Malásia em 80% do seu consumo de água, financiou pesquisadores e hoje tem, entre muitas outras, uma máquina que capta a umidade do ar e a transforma em água (experimentamos a água, e é o mesmo gosto). Percebe-se que não há obstáculos que os façam recuar!

Dubai foi uma parada conveniente já que nosso voo passaria por lá. Uma cidade no meio do deserto? É isso. Fora o calor insuportável, é incrível, os xeiques, que são muito criativos, pagam para construir o que têm na cabeça e, pronto, constroem. Simples assim! Vamos aterrar 15 km mar  adentro em formato de palmeiras? Ok, estão fazendo. E eu perguntei o porquê de todas as construções serem bege, vemos uma monocromia na cidade, e a explicação (simples) é que, como há muito vento, a areia é fina e fica em suspensão, sujando todas as casas e prédios. Assim, não tem por que pintarem de outra cor, já que tudo ficará bege um dia! Aqui merece falar sobre a religião e os costumes. As rezas ressoam em altofalantes no meio das ruas, acontecem cinco vezes ao dia e quem quiser entra nas mesquitas para rezar. Sobre uso das burcas: os homens usam se quiser, podem ser brancas ou beges e podem mostrar o rosto, a maioria usa, notei que eles têm orgulho em usá-las. As mulheres podem ou não usá-las também, a cor é preta e, dependendo do grau de religiosidade da família, mostram o rosto. Outras mostram somente os olhos (como ninja) e algumas nem isso, tapam com um véu! Ficamos pensando se esse costume permanecerá por muitos anos, considerando que o governo local tem incentivado muito a entrada de empresas multinacionais e, com isso, a vinda de pessoas do mundo todo. Ao andarmos pelas ruas e shopping, percebemos a grande mistura que aquele país está se tornando, e é um choque vermos uma moça coberta dos pés à cabeça e outra de shortinho e de chinelos.

Agradeço ao Sebrae/PR pela experiência que me ofereceu. Indiscutivelmente única por vários aspectos. Seja por conhecer o que países-referência estão pensando e fazendo, para proporcionar um futuro melhor aos seus empreendedores, seja por entrar em contato com culturas e costumes ímpares que nos agregam de forma intangível. A missão ao sudeste asiático me fez refletir sobre o que somos hoje e, mais importante, o que podemos ser amanhã.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Reflexões Finais - por ALLAN COSTA

E chegamos ao fim da jornada da missão de benchmarking aos países do Sudeste Asiático. Ainda vamos incorporar ao blog o relato sobre as instituições que visitamos em Dubai, mas por hora, é importante registrar as impressões finais enquanto elas ainda estão frescas na memória. Aqueles que acompanharam o blog, tenho certeza, puderam perceber a riqueza de tudo que vivemos, aprendemos e vivenciamos ao longo das três semanas em que rodamos por 5 países.

Na verdade, o trabalho não terminou. Ao contrário, agora sim, ele irá se iniciar. As 3 semanas em que estivemos cumprindo agendas intensas de visitas técnicas e aprendizado, são o ponto de partida para muitas coisas que virão na sequencia. Temos que preparar material por escrito e em formato de apresentação/palestra para cada país que visitamos; precisamos desenvolver workshops de repasse do aprendizado para nossas equipes e para parceiros interessados; temos que espalhar, de forma intensa e ampla, o aprendizado e as lições que aprendemos, principalmente aquelas que nos inspiram a pensar em soluções e estratégias potencialmente vencedoras para o futuro das nossas pequenas empresas e do nosso país. Temos que envolver e mobilizar formadores de opinião que compartilhem as nossas crenças de que, ainda que o caminho trilhado até aqui no apoio aos pequenos negócios no Paraná e no Brasil seja positivo, sempre há espaço para melhorar, principalmente quando pensamos em desenvolvimento de competitividade de nível mundial, em detrimento de políticas assistencialistas focadas em quantidade, o que, comprovadamente, tem legado e efeito positivo de curtíssima duração.

Neste último post, de encerramento, penso serem relevantes algumas considerações:

  • Temos que agradecer ao nosso Conselho Deliberativo Estadual e principalmente ao nosso Presidente Jefferson Nogaroli, pela visão e compreensão do tamanho do desafio envolvido no projeto proposto. Quando idealizamos este conjunto de missões, por encomenda e proposição do nosso Presidente, tivemos amplo apoio do nosso Conselho em uma demonstração inequívoca de crença no fator humano como diferencial nas ações do Sebrae/PR. Em um projeto como esse, seria fácil escorregar para a mediocridade dos pensamentos mesquinhos, associando o que se propunha a uma “viagem de turismo” (sei que alguns desinformados e, talvez, menos privilegiados do ponto de vista da visão devem ter tido pensamentos dessa natureza). Mas felizmente, não foi o caso do nosso Conselho Deliberativo nem por um instante, o que evidencia o privilégio que é, para o Sebrae/PR, ter pessoas como essas conduzindo os seus rumos;
  • A agenda cumprida foi intensa e voltamos exaustos (aliás, difícil imaginar uma viagem de turismo com trabalho diuturno das 8h até muito depois das 18h, normalmente, envolvendo processamento e registro de aprendizado, além das necessárias alimentações ao blog). Mas voltamos com a sensação de que cada minuto investido neste processo valeu a pena. Como sempre digo depois de experiências transformadoras como esta, voltamos muito diferentes do que fomos;
  • Além do conteúdo técnico propriamente dito, uma missão dessa proporção também tem sempre como objetivo um benefício indireto mas que faz toda a diferença para a empresa que queremos ser. Estou falando da ampliação da visão e da abertura de “corações e mentes” proporcionada por uma experiência como esta. Os participantes não mergulharam apenas no universo das instituições de apoio aos pequenos negócios em cada um dos países visitados. Eles mergulharam na cultura e nos costumes, conheceram diferentes realidades, e, fundamentalmente, ampliaram de forma consistente suas referencias. Se queremos ter uma instituição que é modelo e ponto de apoio efetivo para os pequenos negócios paranaenses, precisamos começar tendo pessoas que sejam, também, referências. E, obrigatoriamente, ser referencia neste caso passa pelo desenvolvimento de visão e atitudes verdadeiramente globais, capazes de antecipar tendências em sintonia com o que acontece ao redor do globo. Este objetivo sempre esteve no cerne da proposta deste projeto, e tenho certeza de que foi plenamente atingido e será sentido nos próximos meses e anos através de evolução na postura e compreensão dos fenômenos econômicos, culturais e evolutivos que nos cercam a todos. Este conjunto de pessoas está ainda mais preparado para conduzir o Sebrae no rumo da efetividade cada vez maior para as pequenas empresas e para nosso País;
  •  Quando propusemos este projeto, colocamos como um dos objetivos dotar o Sebrae/PR de uma equipe consistentemente posicionada entre as pessoas que mais entendem de pequenos negócios em escala global no Brasil. Posso afirmar, sem falsa modéstia, que este já é mais um dos objetivos atingidos. Não tenho receio de afirmar que as cinco pessoas que partilharam a experiência descrita neste blog, hoje são, no Brasil, as pessoas que mais conhecem sobre políticas e estratégias de desenvolvimento baseadas em pequenos negócios no Sudeste Asiático. E, me arrisco a afirmar que, quando o ciclo de missões se encerrar em outubro, teremos no Sebrae/PR dezessete pessoas que estão entre as mais capacitadas do País no que tange ao apoio a pequenos negócios ao redor do Globo. Este é um valor intangível, mas que não tem preço para uma instituição cujo objetivo é melhorar o mundo através dos pequenos negócios. E, além disso, estas pessoas atuarão como multiplicadores deste conhecimento, dotando toda a equipe do Sebrae/PR de conhecimento de vanguarda no tema, ao mesmo tempo em que, esperamos, poderemos influenciar formadores de opinião e líderes públicos e empresariais, com os modelos e referencias que absorvemos.
Em breve, divulgaremos por mídias sociais os meios que colocaremos à disposição para que aqueles que tenham mais interesse nos temas que foram discutidos neste blog, possam se aprofundar. Colocaremos a disposição materiais escritos e workshops que rodarão pelo estado. Temos o compromisso de ampliar a massa crítica sobre o tema. E, principalmente, a responsabilidade de transformar todo o aprendizado que recebemos em ações concretas que beneficiem nossas pequenas empresas e empreendedores. Caminharemos firmemente nessa direção.

Reflexões Finais - Por HEVERSON FELICIANO


Aprendizado sobre o Sudeste Asiático

Sempre ouvi falar ou lia muito sobre o Sudeste Asiático, sobre o grande salto desenvolvimento que estes países atravessaram nos últimos anos, mas obviamente nada pode ser comparado a visitar estes países.

Dos países que visitei: Tailândia, Malásia, Cingapura e também Emirados Árabes/Dubai, existem muitas diferenças, sejam elas culturais, religiosas, políticas e econômicas, mas gostaria de me debruçar no que é similar, naquilo que é comum, uma vez que nossa viagem serviu como aprendizado pessoal e benchmarking com outras organizações que trabalham com micro e pequenas empresas.

Primeiro ponto  como sabemos é que desenvolvimento é sinônimo de liberdade, mas precisamente liberdade econômica e política, sobre as questões econômicas a liberdade é total, o que mais ouvimos dizer era que o governo era pró-business, isto para deixar claro que o incentivo ao empreendedorismo e aos negócios era total, talvez o caso mais emblemático seja o caso de Cingapura em que mudaram ou eliminaram aproximadamente 1.100 leis que atrapalhavam a vida empresarial. A liberdade política é no mínimo diferente para os nossos padrões, não quero dizer que é melhor ou pior, para eles tem funcionado bem, talvez pelos aspectos culturais.

Outro ponto fundamental são os investimentos em infra-estrutura: rodovias, aeroportos e portos são espetaculares, existem pequenas diferenças entre os países, mas todos estes ativos funcionam de forma eficiente e organizada, facilitando muito a vida da população e também das empresas.

Percebe-se também que estes países têm um plano nacional de desenvolvimento, com indicadores de resultados e metas claras, o que acaba se refletindo na atuação das agências de desenvolvimento, todas trabalham com muito foco e não sobrepõem as suas atuações.
De forma geral são países com povos receptivos e extremamente havidos por fazer negócios, as empresas nascem e crescem com um perfil de internacionalização, neste aspecto a Malásia foi quem mais chamou a atenção, o que faz com que estes países e de suas empresas sejam altamente competitivas e globalizadas.

Certamente temos muito que aprender com eles, não sobre “o que fazer”, pois isto é muito próximo do que já fazemos ou fizemos em um passado recente, mas no “como fazer” podemos melhorar muito e sermos cada vez mais efetivos.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

26-06-2012 - Cingapura

E chegamos ao último dia na Ásia.

A despedida de Cingapura foi intensa, três agendas no mesmo dia. Começamos ela ie Singapore (International Enteprise), agência que, naquele esquema do arranjo institucional deles, cuida da abertura de mercados para empresas de Cingapura em mercados pelo mundo afora. Resumindo, das instituições que visitamos dentro do mesmo arranjo, a SPRING cuida de pequenos negócios, a EBD cuida de atrair empresas para dentro de Cingapura, e a ie cuida de levar empresas para fora de Cingapura. Lembram da história do foco? pois é...

Como de costume, tudo começa com o mito fundador da separação da Malásia, a pobreza extrema e a total ausência de recursos na época, e os resultados que eles conseguiram atingir. Eles são o país mais competitivo do mundo, o país onde é mais fácil se fazer negócios no mundo, o país de menor corrupção e maior transparência na Ásia e ainda, o pais que mais respeita propriedade intelectual no mundo. Realmente eles não brincam em serviço quando o tema é se diferenciar pela competitividade do país para negócios.

Conhecemos sobre a forma de investimento público x privado que conduz o crescimento de Cingapura. Eles possuem dois fundos soberanos para investimentos, sempre em parceria com empresas privadas e as empresas resultantes, ainda que com grande parte do capital público, são geridas de forma absolutamente privada. Isso se aplica inclusive a portos e aeroportos. E, falando em aeroporto, eles descrevem o deles como "um shopping onde também pousam aviões...".

Em relação aos vizinhos da região, eles se consideram um país muito bem posicionado do ponto de vista da atração de negócios e não vêm concorrentes. Entre outras coisas, pelo fato de ser mais fácil fazer negócios  no país, pela transparência e pela localização geográfica estratégica, o que favorece o seu porto, que por sinal, é o segundo maior do mundo em movimentação de contêineres e é 10 vezes maior do que o porto de Santos. Por aqui, quem visita o porto se percebe em um deserto. Não há um único estivador e toda a movimentação de contêineres é feita de forma centralizada e forma automatizada. Além disso, há mais de 10 anos implantaram um conceito, na época inexistente em outros portos, de "single window", onde qualquer contêiner era liberado em minutos a partir de um único local.

A instituição seguinte foi a ASME - Association of Small and Mdium Enterprises. Em linhas gerais, apesar de seu slogan ser "for entrepreneurs by entrepreneurs" a ASME é o braço da SPRING (que em grande parte financia suas operações), para trabalhar com micro empresas. Enquanto a SPRING se concentra em empresas competitivas, inovadoras e de potencial exportador, a ASME cuida dos micro empresários, da sua formação, da atração de talentos para essas micro empresas e da realização de prêmios, que são dados aos borbotões, pelo que percebemos, de certa forma até banalizando-os... Mais uma vez, lembram da história do foco? Pois é... escolhas! A SPRING quer ser (e é...) MUITO BOA no trato com pequenas e médias empresas. E não se trabalha com pequenas e médias empresas da mesma forma que com micro empresas. Portanto, nada de querer abraçar o mundo (o pessoal já dizia lá em Jacarezinho que quem muito abraça, pouco aperta... hehe). A SPRING cuida do que sabe fazer, e a ASME complementa fazendo o que não cabe dentro da SPRING por questões de escolha, estratégia e adequação.

Finalmente, fechamos o dia na National University of Singapore conhecendo seu programa de incubadoras e apoio a start-ups. De certa forma, começa a ficar repetitivo, porque, mais uma vez, a história se repete. Pesquisa de altíssimo nível SEMPRE conectada à indústria! Se o pesquisador quer recurso para pesquisar, ele tem acesso a recursos de várias formas. Mas com uma condição: explicar como ele imagina que o produto da sua pesquisa será comercializado. No que tange às incubadoras chama a atenção o fato de que as empresas que nascem ali já nascem globais. E isso é fruto de programas de intercâmbio que mandam os estudantes para ficarem de 6 meses a um ano nos EUA (Vale do Silício) ou em outras universidade ao redor do mundo não necessariamente apenas estudando disciplinas que poderiam estudar em casa, mas imersos em alguma empresa startup desses locais e sobre a mentoria de empreendedores experientes. Exemplos do que isso gera: visitamos uma empresa de 3 meninos que produzem software para interpretação semântica e cujo mercado principal são os Estados Unidos (dois dos meninos participaram do estágio no Sylicon Valey). Em outra empresa, encontramos uma estudante de Cingapura, uma sueca, um australiano e um finlandes. A cingapurenha (espero que assim se denominem os cidadãos de Cingapura...) fez o estágio na Suécia Chegou lá, num frio desumano e descobriu que seu hábito de viver colada ao iphone seria comprometido, porque não dava pra digitar de luva. Então, resolveu o problema: criou com os amigos uma luva com propriedades indutoras. Ela é uma luva de frio daquelas que os dedos ficam todos juntos (tipo luva de boxe), mas que num "passe de mágica", pode descobrir os dedos que estão cobertos por uma luva de material condutor, permitindo operar os iphones e ipads da vida sem nenhum transtorno. Mercado? Qualquer lugar que faça muito frio (como Suécia e Finlândia), o que seguramente não inclui Cingapura.

No mais, chegamos à reta final Temos Dubai amanhã e depois, back home. Impressões gerais sobre Cingapura:
  • Cingapura é uma cidade estado do tamanho aproximado de Campinas. 
  • Crescimento físico de Cingapura está no limite. Agora, só crescendo através de aterros. Nos últimos 10 anos, saíram de 650 km2 para 710 km2 dessa forma.
  • O combate à corrupção é coisa séria. Possuem uma agência anti-corrupção ligada diretamente ao Presidente. O Presidente, apesar de ser figura de pouco poder em relação ao primeiro ministro, por exemplo, tem poder para destituir qualquer pessoa (inclusive o próprio primeiro ministro) caso a agência anti-corrupção identifique irregularidades. Neste caso, após a prisão, o sujeito só consegue, no máximo, ser motorista de táxi em Cingapura (no Brasil, o sujeito vira senador, por exemplo..)
  • Primeiro impacto de Cingapura é impressionante. Mas a cidade é pequena e compacta, e em dois ou três dias tem-se a impressão de que já se viu tudo.
  • Cidade ocidentalizada. Bastante orientada a turismo
  •  Todo mundo fala inglês. Na escola, aprendem mais dois idiomas além do inglês (o da etnia da pessoa - Chines, malaio, etc - e um terceiro)
  • A liberdade econômica é extrema, mas a liberdade política é relativa. O governo é gerenciado como uma empresa, o primeiro ministro é carinhosamente chamado de CEO de Cingapura.  O partido da situação está no país desde que o país foi criado. Possuem todas as cadeiras do parlamento menos uma. Percebe-se que o partido se sustenta pelos bons resultados ao longo dos anos. Será mesmo que a alternância de poder é tão necessária assim em todas as situações???? pra refletir...
  •  O que eles conseguiram fazer em 40 anos é impressionante. País paupérrimo e sem recursos quando se separaram da Malásia com PIB per capita inferior a de vários países miseráveis e hoje tem uma das 5 maiores rendas per capita do mundo.
  • Tudo é focado a negócios. Eles possuem a consciência de que o seu diferencial competitivo no mundo é facilitar a realização de negócios. Se não ajuda, tira do caminho.
  • Ter um carro em Cingapura não é fácil. Não basta comprar o carro. Começa com o leilão da placa, que custa cerca de USD 75 mil. Número de carros é controlado pelo governo. A placa vale por 10 anos, depois tem que comprar outra. São 600.000 carros, e o tamanho da frota é controlado pelo governo.
  • Em contrapartida, o transporte público funciona MESMO.
  •  Taxa de natalidade é de 1.3, a segunda menor do mundo (só perde para o Japão)
  • Exemplo do conceito de eficiência deles: no aeroporto, na entrega das bagagens, a primeira mala tem que chegar na esteira em no máximo 12 minutos depois do pouso, e a última em até 25 minutos. Em Guarulhos, só pra liberar um finger (quando libera...) pro avião parar já demora mais que isso... hehehe... e que venha a Copa do Mundo!

terça-feira, 26 de junho de 2012

25/06/2012 - Cingapura

O penúltimo dia em Cingapura começou as 9h da manhã na SPRING Singapore - Standards, Productivity and Innovation for Growth. A SPRING é parte do sofisticado arranjo institucional de Cingapura para fomentar o desenvolvimento econômico e é a agência responsável por cuidar das pequenas e médias empresas.

Esta instituição se diferencia da maioria das instituições que conhecemos porque além do papel de ajudar no desenvolvimento das empresas do ponto de vista da gestão e programas de apoio, ela também é responsável por padrões e certificações das pequenas empresas (uma espécie de INMETRO), a fim de assegurar que as pequenas empresas sempre terão níveis de competitividade internacional, já que o grande foco de atuação aqui é o mercado externo, uma vez que internamente Cingapura tem um potencial de consumo muito pequeno como país, com população total inferior a seis milhões de habitantes.

A exemplo dos outros países visitados, as pequenas e médias empresas respondem por 99% dos negócios. Entretanto, aqui há uma grande diferença no que tange à sua participação na adição de valor à economia, onde o segmento responde por 51% de todo o valor adicionado. Ou seja, as MPEs á passaram há tempos da fase de subsistência e se encontram focadas na criação de valor elevado.

A tarde estivemos na EDB Singapore - Economic Development Board, cujo papel dentro do arranjo que mencionei, é atrair investimento e empresas do exterior para Cingapura. Aqui também, como em outros países visitados, as funções de cada agência são bem específicas. Por exemplo, amanhã vamos à co-irmã do EDB cujo objetivo é levar empresas de Cingapura para o mercado externo. Ou seja, cada macaco no seu galho, com uma coordenação central que funciona bem e que deixa bastante claras as atribuições de cada parte.

Em Cingapura, pelas instituições que conhecemos até aqui, está presente de forma bastante forte a ideia do "mito fundador". Ambas as instituições explicaram seus papéis a partir da história do desenvolvimento econômico de Cingapura desde sua independência em 1965. No caso da SPRING, sua evolucão foi:


  • 1967 - 1978 - foco em exportação
  • 1979 - 1985 - Reestruturação da indústria
  • 1986 - 1997 - Capacitação das empresas e diversificação econômica
  • 1998 até hoje - Transformação de Cingapura em uma economia do conhecimento
No caso da EDB, fica mais ou menos assim:

  • Anos 60 - desenvolvimento de economia intensiva em mão de obra
  • Anos 70 - intensiva em habilidades do trabalhador
  • Anos 80 - Intensiva em capital
  • Anos 90 - Intensiva em tecnologia e serviço
  • Anos 2000 - Intensiva em inovação e talento
Estas mudanças de foco em cada uma das agências estão sempre conectadas ao momento econômico e ao plano de desenvolvimento do país. Começando na década de 60, quando o desafio era gerar emprego para a população miserável (lembremos que na independência em 65, Cingapura era mais um país pobre com renda per capita baixa e sem alternativas ou recursos naturais...). A partir daí, os momentos econômicos foram se sucedendo até chegar aos dias de hoje, onde o foco das políticas é transformar o país em uma economia criativa e inovativa, com altíssimos níveis de produtividade (a fim de que não tenham que importar mais mão de obra do exterior, já que hoje tem menos de 3% de desemprego) e que sirva como pólo de atração de talentos e porta de entrada destes talentos e empresas para toda a Ásia. 

A filosofia de negócio deles é simples: pergunte para que serve. Se não serve pra nada, tire do caminho. Desta forma, eles mudaram mais de 1.100 regulamentos e normas em torno do ambiente de negócios nos últimos 10 anos para tornar mais simples fazer negócios. Visão é de ser o melhor lugar do mundo para fazer negócios (pelos rankings atuais, já o são), e eles não podem errar neste ponto, pois como na Coréia, não têm recursos naturais, não tem energia e não tem nem água potável em quantidade suficiente. Assim, tornar o país competitivo é uma questão de sobrevivência.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

24/06/2012 - Cingapura

Final de semana agitado... pero no mucho. Pessoal com sono atrasado, mas deu pra conciliar (muito) sono com um pouco de turismo.

Cingapura realmente impressiona. Embora contrastes existam (basta se embrenhar por ruelas alternativas fora das principais avenidas para perceber...), no geral, a cidade transpira prosperidade. Dona de uma beleza arquitetônica única, talvez só equiparada pelas referências que tenho a Sydney em grandeza, beleza e funcionalidade. Tudo parece funcionar em harmonia. Os grandes arranha céus do centro comercial e financeiro com a região do Boat Quay  (onde bares e restaurantes se sucedem na beira do rio) separando-a do rio propriamente dito. A Marina, onde concentram-se o hotel famoso que tem a piscina de borda infinita no topo (fotos a seguir), a maior roda gigante do mundo logo ao lado, o jardim botânico nas imediações e a região dos shoppings de grifes famosas na região da Orchard Street.

Além disso, uma ilha inteira dedicada ao Hedonismo chamada Sedona, com cassinos, hotéis de luxo e uma filial do parque temático da Universal Studios.

Agora acaba a moleza porque aqui já é segunda-feira e estamos saindo do hotel para ir à Embaixada Brasileira por aqui. Penúltima parada da missão começa agora.

A seguir, algumas fotos "atrasadas" ainda de Kuala Lumpur (Petronas Towers, museu do comércio e showcase de empresas exportadoras na MATRADE, além de algumas fotos adicionais da SMIDEX) e fotos do final de semana em Cingapura.

KUALA LUMPUR















CINGAPURA (templo indiano, templo budista onde está a relícia "dente do buda" e vistas da cidade)





















sábado, 23 de junho de 2012

23-06-2012 - Cingapura

E chegou o final de semana... Estávamos precisando. Atualizei os posts anteriores com algumas fotos que não haviam subido para o blog pela falta de tempo.

Cingapura é acima de toda e qualquer expectativa que pudéssemos ter. A cidade é um espetáculo. Linda. Iluminada. Toda a cidade possui rede elétrica subterrânea, as avenidas são largas, os prédios são novos e de inspirada arquitetura. O ponto alto da viagem!

Comentarei mais sobre a cidade nos próximos posts. Por hora, algumas fotos tiradas ontem a noite na região da maior roda gigante do mundo (tem um nome diferente, Singapore Flyers, mas no fundo, ainda uma roda gigante) e na região de Marina Bay Sands.









sexta-feira, 22 de junho de 2012

22/06/2012 - Avião da Malaysian Airlines - Algum lugar entre Kuala Lumpur e Cingapura


Último dia em Kuala Lumpur, deixamos o hotel bem cedo, já de malas prontas e check out feito para nossa manhã no evento de pequenas empresas, onde antes da abertura teríamos a reunião com a SME Corp, mais importante instituição do arranjo de apoio aos pequenos negócios na Malásia. A SME Corp possui uma grande20 milhões em negócios potenciais.

Como estou escrevendo este post no vôo entre Kuala Lumpur e Cingapura, ainda não fizemos nossa reunião de avaliação dos aprendizados do dia. Mas no trajeto até o aeroporto em KL (sim, já nos sentimos íntimos da cidade a ponto de tratar Kuala Lumpur da mesma forma que o fazem seus residentes, apenas como “KL”), já trocamos algumas impressões. Vendo o que eles fazem por aqui e o nível de efetividade que eles atingem (o orçamento da SME Corp é uma fração do orçamento do Sebrae, por exemplo), algumas coisas saltam aos olhos.

Possuímos, efetivamente, uma rede de suporte aos pequenos negócios de primeira linha. Nenhum país visitado possui algo com a abrangência e formato do Sebrae no Brasil; 

Nossos produtos não são ruins. Pelo contrário, eles são muito bons. Entretanto, temos a mania de reinventar a roda a todo momento. Alguns dos instrumentos que eles utilizam com grande efetividade usam a mesma base de produtos que utilizávamos no Brasil há mais de 20 anos. Mas a obsessão por grandes números e a tendência a achar que tudo está obsoleto e que temos que “fazer algo novo”, nos parece que por vezes tira a efetividade e dispersa os esforços. Assim, trocamos efetividade (do ponto de vista do resultado concreto, não apenas quantitativo, e considerando como princípio básico a elevação do nível de competitividade das empresas atendidas e, por conseqüência, do País), consistência e “compromisso” com o resultado, por ações que atendem vários milhares de empresas de forma mais superficial e pela busca constante por novos produtos e soluções que tornam difícil estabelecer comparativos históricos e investir mais tempo e recurso na evolução das empresas que atendemos, uma vez que uma parte deste tempo e recursos são desviados para a atividade de criação de novos e novos e mais novos produtos. Em outras palavras, o sofisticado parece ser inimigo do simples e efetivo.







Kuala Lumpur - 21/06/2012


Mais uma vez, nossa programação na Malásia contou com o apoio da sorte (ou da conspiração do universo que normalmente acompanha as boas intenções). Por acaso, acabamos estando por aqui exatamente na mesma data de um grande evento que eles realizam envolvendo pequenas empresas. O evento é organizado pela SME Corp, com quem conversaremos amanhã. Mas hoje, fomos ao local do evento antes da sua abertura, que ocorreria as 10h da manhã, para uma reunião com membros da SMI Association of Malaysia (Small and Medium Industries – ou asssociação das pequenas indústrias da Malásia). A instituição oferece aos seus associados serviços de business matching e de facilitação de contatos comerciais, e o interesse maior das pessoas que nos atenderam (sete no total) era estabelecer processos de cooperação e identificar oportunidades de negócios efetivos entre empresas Malaias e Brasileiras. NA essência, estávamos com empresários muito focados em negócios, e a conversa girou em torno de eventuais oportunidades de parcerias entre empresas dos dois países.

Curiosamente, como coincidência pouca é bobagem, fomo abordados logo na chegada por um indiano, que é fundador Presidente da Small and Medium Business Development Chamber of India que percebeu que falávamos português e disse que estará levando uma missão da Índia em visita ao Brasil. Informamos que também teremos uma missão para a Índia em outubro, e ele prontamente se colocou inteiramente a disposição para ajudar em todos os aspectos necessários na montagem das agendas e realização dos contatos em todo o território Indiano, o que será de valor inestimável para a nossa missão que irá pra lá no segundo semestre.

Na sequencia, visitamos a Embaixada do Brasil em Kuala Lumpur, e vale dizer que todos os elogios que fiz anteriormente à Embaixada e ao senhor Embaixador do Brasil na Tailândia se aplicam à Embaixada aqui na Malásia e à sra. Embaixadora. Passamos longo tempo conversando com a Embaixadra Maria Auxiliadora Figueiredo, recém chegada ao seu posto vinda da África, e trocamos várias impressões sobre diferenças e similaridades entre a economia brasileira e malaia, além de conversar sobre possibilidades de cooperação. Evidenciamos que quem tem o papel de estabelecer cooperação formal no nosso caso é o SEBRAE Nacional, que tem expertise pessoal e estrutura funcionando com este propósito, o que não impediu de discutirmos várias idéias que poderão vir a dar frutos no futuro breve.

Da embaixada, seguimos para o MATRADE (Malaysia External Trade Development Corporation), outro exemplo fantástico de instuição de suporte aos pequenos negócios. Com um orçamento bastante modesto para os padrões brasileiros (APEX e outros), eles fazem ações bastante concretas (aqui é sempre assim.. FOCO, FOCO e MAIS FOCO!!!!!!, não dá tempo pra pensar em “o que fazer com o dinheiro”). Possuem instrumentos concretos de incentivo para pequenas empresas atingirem o mercado externo, inclusive, uma espécie de showroon permanente com 400 empresas pagando uma taxa de USD 400 por ano para expor seus produtos visando apresentá-los aos visitantes que todos os dias procuram o MATRADE atrás de produtos e serviços das empresas Malaias. Visitamos ainda o Museu do Comércio Exterior mantido por eles, que conta a evolução das práticas de comércio exterior do País.

O cansaço está acentuado, já que temos apenas mais um dia na Malásia, e muito ainda para ver. Mas estamos revigorados pela quantidade de aprendizado de valor que estamos absorvendo em tão pouco tempo.





Kuala Lumpur - 20/06/2012


Pois é já estamos no aeroporto aguardando o vôo para Cingapura e ainda não fizemos um único post sobre a Malásia. Portanto, vamos tratar de recuperar o tempo perdido.

Chegamos a Kuala Lumpur na noite do dia 19, já quase dia 20, no vôo da Malaysian Airlines vindo de Bangkok. Escrevo já de partida da Malásia, portanto, já posso tecer algumas conclusões que não poderia no primeiro dia: a Malásia nos impressionou desde o momento em que chegamos até agora, quando já estamos de saída. Me arrisco a afirmar que foi o ponto alto da viagem até aqui. Kuala Lumpur é uma cidade espetacular. Moderna, cosmopolita, viva, avenidas largas, belíssima arquitetura e, o mais importante, um povo tremendamente hospitaleiro que faz toda a questão de receber muitíssimo bem. Concluímos que ao contrário do que acreditávamos, valeria a pena ter ficado mais tempo aqui e menos em Bangkok.

Começamos a quarta-feira no SME Bank, banco Malaio de apoio aos pequenos negócios. Aliás, por aqui os bancos de desenvolvimento, como eles chama, são divididos por função (comércio, agricultura, pequenas empresas), de modo a terem foco preciso e evitarem sobreposição. Também vale mencionar que embora o banco tenha que dar resultado financeiro (leia-se lucro), esta não é a sua prioridade. O principal papel é ajudar a desenvolver a economia através do apoio a pequenas empresas. E, se uma empresa não paga seu empréstimo, a primeira preocupação do banco não é recuperar o recurso, mas sim, recuperar a empresa, apoiá-la, saber porque o financiamento não pode ser pago, para aí sim, pensar na questão financeira.

Como outras instituições por aqui, o crédito fornecido pelo banco também está sempre acoplado a consultoria e capacitação para a aplicação do recurso. Talvez isso ajude a explicar a taxa de insucesso das empresas atendidas pelo banco. Embora eles não tenham estatísticas precisas, o diretor com quem conversamos estima que apenas 10% das empresas atendidas pelo banco acabam morrendo no médio prazo. Eles usam a expressão  hand-holding . Em outras palavras, eles pegam as empresas pela mão para que caminhem juntos, e ASSUMEM RESPONSABILIDADE EFETIVA pelo sucesso da empresa.

No princípio de sua atividade (que data de 1974), o banco teve forte inclinação assistencialista. Seu papel predominante era apoiar pequenas empresas, independente do seu setor de atividade ou condição de competitividade. Com o passar do tempo, esse papel foi se transformando e agora está focado em, só pra variar, EMPRESAS COMPETITIVAS com potencial exportador.

Nos chamou a atenção  fato de que como na Coréia do Sul e na Tailândia, também aqui eles possuem um segmento de médias empresas, que não são mais micro e pequenas mas também ainda não são grandes, e portanto, continuam precisando de apoio.

O SME Bank também possui uma espécie de incubadora chamada Entrepreneur Premise Bank. Em resumo, o banco possui estrutura própria de condomínios para alojamento de pequenas empresas que podem ficar por ali entre 5 e 9 anos pagando um aluguel bastante favorável e aplicando o recurso fornecido pelo banco na forma de empréstimos. Ao se instalar ali, as empresas contam com assessoria permanente do banco. E o mais interessante, é que uma empresa é considerada graduada quando está pronta para ABRIR SEU CAPITAL. Também é interessante entender que essas incubadoras (que posseum espaço para mais de 400 empresas simultaneamente, em vários pontos espalhados pelo país) não tem conotação tecnológica, mas sim, foco em empresas potencialmente competitivas. Visitamos uma dessas instalações e conversamos com um empresário que compra kits de avião americanos e os monta na Malásia (aviões voltados ao lazer), e outra empresária que produz biscoitos e cookies. Percebemos que a realidade presente no ambiente de negócios é muito mais simples que no Brasil. Aliás, como nos outros países que visitamos, aqui também eles usam o ranking Doing Business como medida explícita da competitividade do país e estabelecem metas em torno disso. Outra aspecto relevante é que no ambiente deles, a competitividade não se mede pelo suposto nível de inovação decorrente de automação ou coisa do gênero. A empresa de biscoitos, por exemplo, é assustadoramente artesanal para os padrões convencionais. Por exemplo, o processo de embalagem dos cookies é feito manualmente, com pessoas dedicadas exclusivamente à tarefa de arrumr os cookies nas embalagens. Apesar disso, a empresária (que possui certificação Halal, necessária para vender alimentos para mercados muçulmanos), exporta SETENTA POR CENTO da sua produção para a China e já foi até vítima de pirataria por uma grande empresa do ramo por lá. A outra empresa, a de aviões, produz 3 aviões por ano, ao custo de USD 200.000 e os exporta TODOS para a Austrália.

A tarde, após a incursão ao SME Beank e uma das instalações da sua “incubadora”, seguimos para o MPC - Malaysia Productivity Center. Para traçar um paralelo familiar para a maioria, eles podem ser comparados à Fundação Nacional da Qualidade, no Brasil. Sua missão é impulsionar a competitividade das empresas Malaias através de melhoria de processos. Da mesma forma que o SME Bank, adotam o ranking Doing Business (que usamos de parâmetro para a construção das nossas missões) como balizador das suas atividades para melhorar de posição nos vários aspectos contemplados no ranking. O foco da instituição também evoluiu de forma significativa ao longo dos anos, acompanhando a necessidade do país em termos de alavancagem das suas empresas
  • Anos 60 – Treinamento em gestão e serviços de aconselhamento
  • Início dos anos 90– pesquisas e desenvolvimento de sistemas produtivos
  • 1995 – 2000 - Produtividade e aumento de eficiência
  • Início dos anos 2000 - Benchmark e melhores práticas
  • 2005-2010 – Competitividade e inovação
  • 2010-2015 – Alto impacto, produtividade e drivers de inovação

Enfim apesar do cansaço extremo (que se acentuará nos próximos dias, como comentarei nos próximos posts), temos a sensação de que as lições da Malásia serão riquíssimas. Se a Coréia do Sul está muito a nossa frente em termos de estratégias de desenvolvimento de pequenas empresas e a Taiândia está no extremo oposto, nos parece que a malásia está no meio de um processo evolutivo necessário rumo a saltos quânticos de competitividade, que tem muito a ver com aquilo que entendemos como necessário para nosso país