terça-feira, 31 de julho de 2012

Reflexões Finais - por RAINER JUNGES


Recentemente ouvi falar muito sobre o sudoeste asiático, grande desenvolvimento econômico, países de contraste socioeconômico, excelentes em processo, orientados ao mercado mundial, etc
Dos países visitados nesta missão: Coréia do Sul, Tailândia, Malásia, Cingapura e Emirados Árabes/Dubai, extremamente diferentes entre si em relação a cultura e crenças, porém relacionados pelo rápido crescimento econômico apresentado nos últimos anos.
Pude perceber diferenças e similaridades com o Brasil, porém gostaria de aqui esboçar alguns aprendizados ou reflexões decorrentes desta experiência:
Revolução não se faz sozinho – A cultura é dinâmica, como mecanismo adaptativo e cumulativo sofre mudanças, traços se perdem e outros se adicionam, em velocidades distintas nas diferentes sociedades, porém nos países que visitamos ficou explicito que as mudanças não foram feitas através de um grande líder ou uma grande instituição, existe um “sonho” coletivo. Em todas instituições que visitávamos, todas tinham o mesmo discurso, dividiam o mesmo “mito fundador” tinham seu papel no processo, porém todas compartilhavam o mesmo objetivo.
Isto, no meu entender, vai muito além de planejamento ou um “bom arranjo institucional”, no momento em que todos compartilham do mesmo sonho, a revolução pode estar em qualquer instancia ou qualquer organização e desde que o engajamento e desejo sejam legítimos o sonho pode, e se mostrou possível de ser alcançado.
Talvez o ponto crucial do processo, seja aderente a ideia apresentada por  James Collins e Jerry Porras no Livro “Feitas para durar” no qual discorrem que o crucial para o sucesso de empresas visionárias está em  “dar as ferramentas, não impor soluções” e que empresas visionárias tornaram-se líderes de mercado porque seus líderes preocupam-se com o futuro da empresa e a visão delas, não com eles mesmos.
A pobreza física é decorrente da pobreza mental” esta frase mostrou-se verdadeira nos países visitados. Na Coreia do sul no IFEZ não estão pensando em ser referencia na Coreia, pensam em ser um centro de referencia para o norte da Ásia, em Cingapura formam-se empreendedores para o mundo e não somente para o mercado local.
A cultura de excelência e empreendedorismo não é um privilégio de poucos centros, percebe-se presente em todos os níveis da sociedade, o espírito de grandeza é presente em todos os discursos. Em contraponto no nosso país pensamos em erguer barreiras e criar centros de excelência e fecharmos os olhos para o que ocorre ao nosso redor...Temos uma das melhores escolas do mundo porém a maior parte do ensino é de pais subdesenvolvido...Hospitais referencia à níveis mundiais porém a saúde pública padece,não sou contra centros de excelência, porém o que percebi nestes países é que só se muda uma realidade quando o acesso a serviços e padrões de excelência for do alcance de todos.
Zona de Conforto – Dubai não tem água, nem atualmente petróleo, e é literalmente uma cidade de tal grandeza que faz qualquer cidade brasileira parecer terceiro mundo... e está no meio do deserto, é difícil imaginar uma situação mais inóspita que esta...Cingapura não tem água, pouquíssimos recursos naturais e compartilha da mesma situação que Dubai...Coréia do sul que pela ausência total de recursos naturais concluiu que a única ação que os poderia retirar da extrema pobreza era importar matéria prima agregar valor e exportar, hoje um país menor que muitos estados brasileiros tem PIB superior ao nosso.
Atitude brilhantemente representada por Paulo Freire: ”A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, exige uma permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se libertam em comunhão."
Liberdade econômica – Todos os governos são pró-business e tem seu desempenho medido por indicadores de facilidade de negócios (doing business). As ações do governo são guiadas mais no intuito de remover empecilhos do que no sentido de querer guiar ou interferir no curso da econômica. Cingapura (que é o país numero um no ranking do doing business) a sociedade apresenta ao governo suas dificuldades sob o viés de que se o governo não pode sustentar uma lei ou regra que a retire... em efeitos práticos para que serve esta regra ou lei, se não há serventia então que a tire, se alguma determinada prática prejudica os negócios e não existe motivo que a sustente...então que seja removida.
Em nosso país a pratica se mostra contraria, criamos o controle do controle...órgãos fiscalizam processos e não resultados...e como resultante uma estrutura que se justifica pela burocracia por ela mesmo criada.
Investimento em Infraestrutura – As fotos falam por si....perder pra Bancoc foi frustrante. Nos países visitados predomina a consciência básica de qualquer negócio ...“to make money you have to spend money” num tradução literal “para fazer dinheiro é necessário investir” ...enquanto não sairmos do dilema do voo da galinha, com nossa visão de curto prazo vamos continuar pintando facha e remendando asfalto e chamando isto de investimento em infraestrutura...simplesmente ridículo.
Como lidamos com a corrupção – Em Cingapura existe uma única agencia que tem maior poder que o primeiro ministro, é a agencia anticorrupção. Um taxista nos relatou o caso de um político que fora flagrado envolvido em corrupção e este teve que deixar o país pois não havia mais possibilidade de convivência, todas as portas de todas as instituições, tanto privadas quanto publicas, se fecharam para ele. Grandes pensadores concluem que a única forma de ensinar ou liderar é pelo exemplo, o contraponto é que impunidade só reforça o comportamento.
Outro fato que me surpreendeu foi perceber que nossos produtos não são ruins ou desatualizados, por exemplo, na Malásia utilizam como ferramenta para medir competitividade das MPEs uma metodologia muito próxima da que já utilizávamos há muitos anos atrás que é o diagnostico de competitividade, que foi uma espécie de inspiração para o diagnóstico do varejo mais. Os instrumentos de capacitação e consultoria não são muito diferentes dos que utilizamos aqui, o que muda é a estratégia de aplicação, o foco, comprometimento com resultado e a constancia.

Certamente temos muito a aprender, porém volto desta missão com o sentimento de que é possível construir um país melhor.

Agradeço ao SEBRAE pela oportunidade e confiança, certamente me foi única sob diversos aspectos, desde o choque cultural até para reforçar o sentimento de que é possível ser melhor. Agradeço aos colegas de viagem Allan, Fabio, Heverson e Renata pelo companheirismo, amizade e compartilhamento de ideias.

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